Você não leu errado, eu não escrevi errado, é aleGRia mesmo.
Comecei a trabalhar com alergia alimentar (AA) em 2003. Na época ainda havia poucos estudos e casos diagnosticados a respeito. Em 2005, durante um atendimento, eu me ouvi dizendo a uma família: “a partir de agora é importante que vocês façam mais refeições em casa, prefiram os ingredientes in natura e evitem os industrializados, pois nem sempre temos as informações precisas sobre os ingredientes e modo de preparo. Se vocês puderem, seria melhor não colocar seu bebê na escolinha tão cedo, pois é difícil delegar um cuidado tão específico para uma professora que cuida de 10 crianças ou mais ao mesmo tempo”.
Quando a família foi embora eu pensei “nossa, acho que a alergia alimentar é uma pegadinha do universo. Ela está mobilizando uma mudança na vida das famílias que, na verdade, é o que orientamos sobre alimentação saudável”. Deixei essa informação guardada em mim e passei a observar tudo com essa ótica desde então.
Ao longo desses anos observei e os estudos confirmaram que os principais fatores ambientais associados à alergia alimentar são: alteração da microbiota intestinal devido ao aumento de cesáreas e redução de partos normais, dieta pobre em fibras, uso indiscriminado de medicamentos, principalmente antibióticos e inibidores de ácido gástrico; desmame com introdução precoce de fórmula infantil à base de leite de vaca; a teoria da higiene, que eu denomino “histeria com o estéril”; exposição a alimentos processados, ultraprocessados e transgênicos; oferta tardia de alimentos sólidos para as crianças (bem após os seis meses). Ou seja, fatores associados ao excesso de intervenção em processos fisiológicos e naturais.
“Em 1963 o autor Edward Lorenz descreveu um fenômeno que denomina de efeito borboleta: “o bater de asas de uma simples borboleta pode influenciar o
curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo”.
Diante do exposto, arrisco-me dizer que a alergia alimentar é o efeito borboleta da prepotência humana. Muito dedo do homem no que é de Deus, dentro da concepção de Deus de cada um (até dos ateus).
A alergia alimentar está denunciando tudo que está em desequilíbrio, o que se perdeu ao longo dos anos. Por essa razão, ela está tirando todos da zona de conforto (famílias, profissionais da saúde, indústrias de alimentos, escolas, governo).
Pegamos uma estrada errada e AA é a placa indicando que não dá mais para seguir em frente, é preciso pegar o retorno.
As crianças com alergia alimentar são os mensageiros dessa informação. Elas estão desempenhando a tarefa de nos mostrar a verdade. Elas trazem à tona o medo de suas famílias, as dinâmicas de rejeição e exclusão. Estão a serviço da alimentação saudável.
A qualidade da alimentação está piorando a cada dia. Nem tudo que se come hoje é alimento. Mudar o comportamento é algo muito difícil para um adulto. Por quem um adulto é capaz de mover montanhas? Pelos filhos. Por isso precisou ser assim.
Alguns podem se perguntar, mas a Renata está querendo retroceder? Não é retroceder, é encontrar o caminho do meio entre a sabedoria da natureza e o conhecimento humano. É agir com consciência.
O que nos acontece é sempre para melhor. A filosofia das Novas Constelações Familiares segundo Bert Hellinger se refere à doença como uma mensageira, algo ou alguém traz uma informação que precisa ser vista e está a favor da cura, da saúde de todo um sistema.
A alergia alimentar está nos mostrando o caminho de volta para a saúde. Por isso eu a vejo com alegria e meu trabalho se chama ALEGRIA ALIMENTAR.
Essa é a mensagem que a alergia alimentar está nos trazendo, dentro da minha percepção.
Referências:
Nowak-Wegrzyn A, Chalchatee P. Mechanisms of Tolerance Induction. Ann Nutri Metab 2017; 70 (suppl 2):7-24.
Fujimura KE et al. Neonatal gut microbiota associates with childhood multisensitized atopy and T cell differentiation. Nature Medicine. 2016;22(10).
Luyt D, Ball H, Makwana N, Green K, Brasvin S, Nasser SM, et al. BSACI guideline for the diagnosis and management of cow’s milk allergy. Clin Exp Allergy. 2014;44(5):642-72.
Hellinger, B. A cura: tornar-se saudável, permanecer saudável. Belo Horizonte: Atman, 2014. 144p
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